História de Urrô

Urrô pertence ao Concelho de Penafiel de cuja sede dista de 5 km. E tem por orago São Miguel. Está situada na margem esquerda do rio Sousa, delimitando o Concelho a ocidente.
È essencialmente agrícola e as suas características rurais ainda permanecem na sua paisagem, composta por ricos milheirais e extensas vinhas, nas quais se produz vinho verde de excelente qualidade. No artesanato, foi de especial importância a tecelagem de mantas à qual, infelizmente, já ninguém, ou poucas pessoas, se dedicam.
Devido à existência do cume de Coreixas, a sudeste, em cuja encosta está situada a matriz de Urrô, o povoamento do seu território é muito anterior à fundação da nacionalidade, pois esse cume foi chamado, na Idade-Média, pelo menos, de “Castro Irivo”, que é o nome da população vizinha situada do outro lado do monte.
O topónimo “Urrô” é evidentemente um diminutivo, significando o mesmo que Urros e Urrós. No século XII dizia-se “Orrios”, no seguinte escrevia-se “Urroo”e, como no norte do país ainda se usa o termo “orreta”, designando um vale profundo ou de vertentes declivosas, é natural supor que o topónimo principal tenha um sentido topográfico. Sendo assim, é alusivo ao vale em cuja encosta se situa a Igreja Paroquial. Este topónimo, embora não referente precisamente a Urrô, encontra-se documentado testamento de D. Flâmula (ou Chamôa), do século X, mais precisamente do ano de 960(“ad Orreo Villa Mediana” – Dipl. Et Ch., n.º 81).

O principal traço da sua história, reside no facto de ter sido, na Idade Média (séculos XII XIV), um notável couto de uma ilustre estirpe chamada “de Urrô”. A notícia mais antiga de Urrô está na criação deste mesmo couto por D. Afonso Henriques, para D. Diogo Gonçalves, fidalgo da sua corte, como foi declarado nas Inquirições de 1258: “hermite Sancti Michaelis de Urroo”. A estirpe dos “de Urrô” começa em D. Gonçalo Oveques, que dizem alguns autores ter sido fundador do mosteiro de Cete, o que não corresponde à verdade, pois este mosteiro é muito anterior e pertence a uma ilustre dama, de seu nome D. Ceti, que se pode considerar sua fundadora. D. Diogo Gonçalves, Senhor de Urrô e do Mosteiro de Cête, morreu em 1139, na batalha de Ourique.
O Mosteiro de Cête surge, no inicio da Monarquia, interessado em Urrô pelos largos bens que Urrô possuía, o que só pode ser devido, dada a antiguidade da relação da estirpe “de Urrô” com este Mosteiro, às relações destes fidalgos com o convento. De facto nas inquirições de 1258, a Igreja de Urrô é citada como pertença do Mosteiro de Cête, que aqui tinha pelo menos três casais: “ipsa hermita est sufraganea de Ceti(…) et sunt tria de Ceti”. Uma vez que Urrô só possuía cinco casais, os outros dois eram do Fidalgo Martim Leitão, conferindo um ar nobiliático a Urrô, desde tempos remotos. No século XVIII, este Mosteiro ainda apresenta a cura de Urrô, com cerca de 70 mil réis de rendimento.

De todos os da estirpe “de Urrô”, aquele que mais permanece na memória e que mais se evidenciou, é o notável D. Frei João Soares, Bispo de Coimbra. João Soares de Urrô nasceu em 1507, integrou a ordem de Santo Agostinho, doutorou-se em Teologia na cidade Espanhola de Salamanca e professou com apenas 16 anos. Em Fevereiro de 1545, D. João III escreveu ao Papa pedindo o beneplácito de nomeação de Frei João Soares de Urrô para Bispo de Coimbra e, tal foi a eficiência do Monarca, que no mesmo ano, estava eleito Bispo para a Diocese Conimbricense. Na qualidade de Bispo, D. João Soares foi enviado á terceira fase do Concilio de Trento. Faleceu a 26 de Novembro de 1572, tendo governado o Bispado de Coimbra durante 34 anos. A sua morte foi muito lamentada, principalmente pelos pobres e necessitados a quem muito ajudava, conforme testemunham escritores do seu tempo.